sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

Pequeno Príncipe cai em domínio público e é relançado


A história de O Pequeno Príncipe, personagem que encantou gerações  mundo afora e marcou como poucos o mercado editorial, ganha novo fôlego  em 2015. 

Com a entrada das obras do francês Antoine de Saint-Exupéry (1900-1944) em domínio público (quando não existe a obrigatoriedade de pagar direitos autorais), o livro movimenta o mercado editorial brasileiro com  novas traduções e edições.


"Agora estamos vendo toda uma corrida de marketing. As editoras querem traduzir para poder vender um  best-seller", opina Ivone Benedetti, que assina a tradução publicada pela L&PM,  nos formatos 16 x 23 cm (R$ 16,90), pocket (R$ 9,90) e digital (R$ 9,90).

A Geração lançou O Pequeno Príncipe com tradução de Frei Betto, nas versões luxo, pocket e e-book (R$ 29,90, R$ 14,90  e R$ 4,90, respectivamente). 

Em 2013, a Agir, que publicava o livro no País, já havia lançado a tradução de Ferreira Goulart (R$ 29,90), como alternativa à de Dom Marcos Barbosa (R$ 19,90). Sozinha no mercado, a editora costumava vender cerca de 300 mil exemplares por ano.

"Com toda essa onda,  mais gente vai ler e, especialmente, mais jovens.  Além de ter naturalmente diálogos inteligentes, ele fala aos sentimentos mais ternos das pessoas. É o ponto forte do livro", defende Ivone  Benedetti.

Apesar de considerada infantojuvenil, a história do piloto que é surpreendido por um menino de outro planeta dialoga com públicos de todas as idades.

"É uma obra clássica para leitores de 6 a 100 anos. O grande mérito de Saint-Exupéry foi descrever, em linguagem coloquial e poética, sua visão de mundo, sobretudo sua crítica à sociedade tal como a conhecemos", afirma Frei Betto, que leu pela primeira vez a obra aos  13 anos. "Era quase um livro obrigatório", lembra o frade dominicano, que estreou como tradutor, depois de já ter publicado 60 títulos.

Traduções

"Traduzir um texto consagrado é uma grande responsabilidade. Meu conhecimento da língua francesa e minha prática jornalística facilitaram resultar em uma versão mais coloquial", diz Frei Betto.

Para Ivone Benedetti, no caso de O Pequeno Príncipe, os tradutores têm que ter cuidado redobrado com o tom do texto. "O que está mais em jogo aí é o tom, que é infantil, porém não pueril. Essa obra tem penetração entre os adultos porque usa uma linguagem que ressoa naquilo que as pessoas têm de mais profundo de sua infância".

Nas mãos de diferentes tradutores, a obra ganha  variações, que podem  trazer diferenças semânticas e soar como mais ou menos formais. "A expressão 'grandes personnes', usada com frequência por Saint-Exupéry, às vezes aparece nas traduções anteriores como 'pessoas grandes' ou 'grandes pessoas'. Traduzi por 'adultos'", explica Frei Betto.

Há palavras que podem até "tirar o sono" dos tradutores, já que nem sempre existe relação perfeita entre os termos nos idiomas.

Em seu blog (www.ivonecbenedetti.wordpress.com), Ivone Benedetti explica dois desses casos: o substantivo mouton, que traduziu por ovelha, mas que já havia sido usado como carneiro e bode; e o verbo apprivoiser,  que optou pelo uso de cativar, mas que também pode ser entendido como domesticar. Já pensou o estranhamento que causaria a troca do verbo na clássica citação da raposa "Você é responsável pelo que cativa"?.

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