sexta-feira, 17 de junho de 2011

Livro digital



O livro digital está avançando, e com ele várias batalhas se antecipam no mundo editorial. Com a apresentação do novo Kindle2, um “leitor” de e-books com wi-fi e conectividade 3G para baixar livros, Amazon desafia não só o Google, mas também as grandes editoras tradicionais. O aparato no entanto é caro para ser popular – custa 359 dólares, mas chega apadrinhado por grandes autores de best-sellers, como Stephen King e John Grisham. 

Por apenas 3,99 dólares os leitores do Kindle podem comprar Ur, romance de Stephen King escrito exclusivamente para eles. Isto, somado ao aumento das vendas nos Estados Unidos – na primeira metade de 2008 se venderam mais ebooks que em todo ano de 2007 – mostra que estamos em um momento de transformação: talvez nossos netos não cheguem nunca a ler livros de papel, e as queridas bibliotecas se tornem meras relíquias dentro de 20 anos.

E a mudança está acontecendo agora.

Ainda que as vendas de 17,8 milhões de dólares não sejam significativas frente aos 39.940 milhões de dólares que fatura a indústria editorial estadunidense, o crescimento é acelerado e a Amazon é o novo gigante a que todos olham com receio. O aumento de suas vendas de livros online foi de 23% nos seis primeiros meses de 2008, muito mais que as das livrarias tradicionais, que cresceram apenas 3%, segundo informe de Jim Milliot para a Feira de Frankfurt, ao qual o Clarín teve acesso com exclusividade.

Com o Kindle e os 230.000 títulos disponíveis para ler no dispositivo, Amazon está na cabeça do mercado de e-books e as editoras temem a competição da maior livraria online, que já está adentrando no terreno da edição.

Antes de 2012, estima Milliot, a Amazon estaria em condições de fazer contratos diretamente com os autores e até poderia comprar uma editora, como já fez com uma produtora de audiolivros. Por sua vez, as grandes editoras estão digitalizando seus livros para vender seus conteúdos diretamente para seus usuários.

O e-book em espanhol

Enquanto isso, na Argentina o fenômeno do e-book é olhado com cautela. “Não estamos vendo o mercado eletrônico de livros, e isto é um erro. Nós editores argentinos temos muito medo das cópias piratas”, diz Ana Cabanellas, diretora da Claridad e presidente da União Internacional dos Editores. O panorama é similar para as editoras grandes e pequenas, que se limitam a colocar seus livros no Google Books para uma leitura parcial.

Diferente é na Espanha e no México, onde o livro eletrônico está em plena fase de decolagem. “Vamos vender e-books antes do final de 2009. Sempre através de canais externos, e-revendedores já existentes como casadolibro.com, elcorteingles.com, fnac.es ou Publidisa, disse ao Clarín Santos Pallazzi, diretor da área de marketing do grupo Planeta. “Os livros acadêmicos e escolares são os que mais cresceram em formato digital. No entando, faltam aos dispositivos de leitura digital funcionalidades, ergonomia e preço para chegarem ao grande público. “O i-pod para livros nem viu a luz”, encerra o perito espanhol. Por sua vez, a poderosa agência literária Carmen Balcells lançou a coleção de e-books “Palavras Maduras”, formada por cento e vinte títulos de autores reconhecidos como Juan Marsé, Rosa Montero y Gabriel García Márquez. E a publicação não está a cargo de nenhuma editora, mas da empresa Leer-e, que comercializa e-books e leitores eletrônicos. Estes e-books são vendidos por apenas 5 euros.

A disputa pelos preços

Um segmento de maior crescimento é o livro acadêmico em formato digital, que geram grandes ambições para as editoras estadunidenses especializadas. E é nesta área que se registram os maiores avanços na América Latina. A Século XXI do México tem um forte programa de venda e e-books: mais de 120 títulos que se comercializam através de sites: Librisite, que vende a livrarias digitais e Netlibrary, que vende exclusivamente a bibliotecas.

“No momento ganha o uso acadêmico do e-book: o site que declara as maiores vendas é o Netlibrary e as bibliotecas que mais compram são as dos Estados Unidos”, diz María Oscos, gerente de produção da Século XXI no México, que tem entre seus compradores a Biblioteca Pública de Los Angeles, a Biblioteca Nacional de Cingapura, o Super Consórcio de Ebooks de Taiwan, juntamente com universidades como a de Guadalajara e a de Cuyo, na Argentina. “Em 2009 pensamos disponibilizar mais cem livros, todos os de 2007 e os de 2008”, agrega Oscos.

O preço dos e-books da Século XXI é 20% mais barato que o livro de papel. E essa é a tendência geral, sendo precisamente o número que acende o alarme nas editoras. A Amazon cobra 9.99 dólares pelos best-sellers digitais, mesmo que as editoras os vendam pelo mesmo preço dos livros em papel.

“Não concordamos com esta estratégia de preços” disse uma executiva da Simon&Schuster ao New York Times. Tal é o paradoxo: enquanto os entusiastas da cultura digital defendem que os preços baixos são uma legítima demanda dos leitores, para as editoras o e-book é um objeio-pressário, que anuncia um futuro de magras ambições. Veremos.

A Corrida pelo suporte perfeito

O que aparece hoje como competição mais forte do Kindle da Amazon e do Sony Reader são os telefones celulares e suas variantes avançadas como o i-phone. E, nesse sentido, Google toma a frente, já que anunciou que seus 1,5 milhões de livros escaneados de domínio público estão disponíveis para ler em i-phone.

A isso Jeff Bezos, da Amazon, respondeu que os leitores querem ler novidades, que é o que a Amazon vende, e não livros velhos com direitos livres. Fortíssimo.

Bezos também pretende oferecer seus livros em formato para celular e a Apple já criou programas para ler e-books no i-phone. De sua parte, a editora Simon and Schuster distribuirá mais de 500 e-books para celulares através da plataforma Global Reaor e a Nokia desenvolveu um projeto para escutar audiobooks e tem à disposição romances como A Ilha do Tesouro, de Stevenson.

A escritora argentina Patricia Suárez é pioneira nos novos gêneros que o e-book e o i-phone impulsionam: escreveu dois romances para MoviStar em 2007, entitulados Bonus Track e Switch! Eram dirigidas a adolescentes e jovens. “Cada romance tinha 40 capítulos e cada capítulo, um máximo de 2.000 caracteres para que pudessem ser baixados em SMS. Era engraçado, os leitores pensavam que as coisas que eu narrava me haviam acontecido.”, conta Suarez.

O aumento do uso de produtos digitais entre os jovens é outro dado inevitável: desde que aumentou o tempo dedicado a videogames em 12 % e a celulares em 29,2 %, a média de horas de leituras dos jovens diminuiu em 1% nos EUA.

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