Esqueça a imagem de
livros de páginas amareladas, acumulados em prateleiras poeirentas. Combinando
arquitetura, inovações e raridades shakespearianas, a maior biblioteca pública
da Europa em número de visitantes redefine o conceito de local de conhecimento.
Localizada a cerca de 2 horas de
Londres, a nova biblioteca de Birmingham deve atrair 3,5 milhões de
frequentadores por ano, de acordo com as expectativas da organização. Com wi-fi
gratuito em seus 10 andares e jardins suspensos, o prédio faz parte do plano de
renovação da segunda maior cidade inglesa, mas já serve como referência a
outras grandes bibliotecas no velho continente.
O UOL visitou o local, inaugurado no dia 3 de setembro pela jovem paquistanesa
Malala Yousafzai. A ativista, que foi levada para Birmingham para
receber tratamento após ser baleada pelo Talibã por defender a educação de
meninas em seu país, mora atualmente na cidade.
Em um momento em que o governo
britânico tem fechado bibliotecas públicas pelo país, abatidas pela recessão,
os números estimados para o espaço impressionam.
O prédio de 31 mil metros quadrados foi
projeto por arquitetos holandeses para abrigar um milhão de volumes impressos –
o maior acervo público no Reino Unido. Desses, 400 mil estão disponíveis para o
público.
Conforme o diretor, Brian Gambles, o
projeto totalizou £ 188,8 milhões (cerca de R$ 680,95 milhões) – £ 4,2 milhões
(R$ 15,15 milhões) a menos do que o orçado.
"É sobretudo um local de
transformação: sobre como temos transformado a vida das pessoas, com educação,
e sobre como tornar uma biblioteca para a era digital", ressalta.
Após passar cinco anos trabalhando no
projeto, a arquiteta Francine Houben, do escritório holandês Mecanoo, conta que
tentou refletir no prédio uma cidade de população jovem e multicultural. Sua
obra foi criada para desenvolver os sentidos.
"É uma ode ao círculo",
explica Francine, em referência às formas circulares de diferentes elementos do
edifício, como a rotunda de livros, que compreende três andares e conta com luz
natural.
Não é apenas a leitura que deve atrair
cerca de 10 mil visitantes por dia: o local inclui dois jardins suspensos,
anfiteatro ao ar livre, área musical, biblioteca infantil e espaços para
estudos com diferentes configurações, entre outros.
"Cada biblioteca é diferente. O
que é único na de Birmingham é seu acervo e seu patrimônio", ressalta a
arquiteta, que deve ir a São Paulo no final de outubro para uma palestra.
Shakespeare
no topo
A biblioteca de Birmingham conta com
uma das maiores coleções de William Shakespeare no mundo. O dramaturgo inglês –
nascido em Stratford-Upon-Avon, cidade na mesma região inglesa – é homenageado
em um espaço histórico, remontado no topo do moderno edifício.
A sala fazia parte originalmente da
segunda biblioteca da cidade, inaugurada em 1882 (após um incêndio ter
destruído o primeiro prédio). Em estilo vitoriano, com painéis de madeira e
gabinetes de vidro, ela foi removida inteiramente e restaurada.
Apesar de a coleção shakespeariana ter
se tornado maior do que a capacidade da sala já no início do século 20, ela
ainda está abrigada no prédio. São 43 mil livros, incluindo as quatro primeiras
coleções publicadas das peças teatrais do autor (conhecidos como
"Folios") e edições raras de obras individuais impressas antes de
1709.
As prateleiras do espaço também dispõem
de outros importantes acervos, que passam por digitalização para ser
disponibilizado ao público. Alguns podem ser conferidos em mesas com touch
screen, desenvolvidas especialmente para a biblioteca.
Uma das preciosidades é o arquivo da
empresa Boulton & Watt, o mais importante da Revolução Industrial, com
cerca de 29 mil desenhos industriais da época. No catálogo online, há
menção da venda de uma máquina a vapor para a cunhagem de moedas para o Brasil,
em 1811.
Entre as mais de 8,2 mil publicações
datadas antes de 1701, estão três livros impressos em 1479 pelo primeiro
gráfico inglês, William Caxton, em perfeito estado. A edição do "Birds of
America" ("Aves da América"), publicado pelo naturalista John
James Audubon na primeira metade do século 19, figura entre os mais caros do
mundo devido sua raridade e é um dos destaques.
Além disso, a biblioteca pública de
Birmingham é a única no Reino Unido a ter uma das coleções nacionais de
fotografias, com mais de 3,5 milhões de imagens.
Em outubro, o espaço deverá receber
escritores renomados como Lionel Shriver (autora de "Precisamos Falar
sobre Kevin" e "O Mundo Pós-Aniversário") e Carol Ann Duffy
(escritora e poetisa escocesa, primeira mulher a ser indicada como "Poeta
Laureado" do Reino Unido) durante o festival de literatura de
Birmingham.
A expectativa é que a biblioteca se
torne um novo destino turístico na região central da Inglaterra.
Nenhum comentário:
Postar um comentário